terça-feira, março 07, 2006

ESCULTURAS

MAR (DE FRONTERAS)
Uma vez mais sobre a areia escreves,
mar, a tua dedicatória interminável,
e das tuas solidões infinitas
despojas-te de novo para ser
uma linha, apenas uma linha diante da terra:
um único verso imenso
que nunca fecha nenhuma estrofe,
um arco de cristal sempre retesado
- e sempre diferente -
que nunca lança a próxima seta.
A quem dedicas, mar, a tua obra incessante
e porquê, a cada triunfo, a transformas
e lhe acrescentas um ai, um adjectivo,
uma onda mais diáfana ou mais pura,
um riso, uma cólera, às vezes uma lágrima?
Que nos pedes
sempre que pareces falar
- e acabas sempre por não nos dizer?
Como insistes em ser o que não és
- linha, verso, cristal, fronteira clara -
tu, cujas trevas são eternas?
Minuto queres ser, tu que és tempo;
Descanso e paz, tu és fibra e luta,
Silêncio, tu que em tudo és clamor.
E olho para ti, e ouves-me, e os anos
passam entre nós sem nos unir
E somos duas perguntas
que talvez se respondam mutuamente,
mas que nunca saberão porquê...
Jaime Torres Bodet ( poeta mexicano)


Paulo de Oliveira desde criança que frequenta o mar. Trabalhou largos anos exclusivamente como fotógrafo subaquático e como mergulhador professional.

Começou a esculpir a pedra da forma que se iniciam muitas coisas na vida: um misto do acaso e de um longo namoro secreto. Até que um dia não se pode esperar nem mais um segundo e passa-se à acção.

Como detesta o barulho de ferramentas eléctricas ou pneumáticas, trabalha sempre tudo, manualmente, com toda a calma de quem não pretende mais do que passar umas boas horas ao ar livre obrigando a pedra a tomar as formas que a sua imaginação vai ditando.

E assim vão nascendo peças toscas, mas de "parto" muito agradável, e que acabam encalhando pelos cantos das casas dos amigos. Alguns deles têm mais sorte e vivem em quintas onde lhes é possível serem simpáticos e acondicionar estes "calhaus" junto de outras pedras do jardim onde passam mais despercebidos.

As pedras, essas são quase todas pré-esculpidas pelo mar. Paulo de Oliveira apanha-as nas praias repletas de enormes calhaus rolados já talhados e bem polidos pela força das vagas. Depois limita-se a trabalhar apenas uma porção do material deixando uma área em bruto que lembrará sempre a sua origem marinha.

Já participou em duas exposições colectivas que tiveram o principal mérito de lhe proporcionar longas conversas com outros escultores, esses sim artistas dignos desse nome.

Existe no nosso país uma arbusto chamado pilriteiro que dá uns frutos pequenos que não servem para nada. O povo improvisou-lhe a seguinte quadra:

- Pilriteiro que dás pilritos

porque não dás coisa boa?

- Cada um dá o que pode

conforme a sua pessoa...

Este escultor, tal como o pilriteiro, dá o que pode.






















Algumas das esculturas de Paulo de Oliveira


Boca-de-pedra em calcário com 35 cm de comprimento

Nariz em calcário com 42 cm de altura

Olho em arenito com 50 cm de comprimento

Cabeça de peixe em calcário com 26 cm de comprimento

Cabeça de Dragão em arenito de Silves com 40 cm de comprimento



Cabeça de Neptuno em arenito com 35 cm de altura


Trilobite em calcário com 40 cm de comprimento

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